segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O relógio girou rápido, sem que eu conseguisse perceber

Eu me lembro exatamente do momento em que eu me apaixonei por você, você estava sentado no degrau do portão da minha casa e eu sentada na calçada, eu tinha uma visão plana do seu rosto assim, debaixo para cima, você vestia uma camiseta azul, estava usando aquele desodorante que tem cheiro de bamboo, no vizinho tocava Milionário e José Rico - Decida. Uma musica antiga e boba, mas que caia perfeitamente para a ocasião, você pediu para que eu parasse de falar e ouvisse a musica, disse que era uma das preferidas do seu tio, pediu mais uma vez que eu ouvisse e prestasse atenção na letra, logo em seguida disse que assim como na musica eu também precisava me decidir, e eu escolhi ficar com você. Depois disso você ainda continuou sendo as minhas escolhas. Naquele dia na praça que você estava deitado no meu colo e disse que se eu te quisesse você deixaria a menina bonita com quem você tinha começado algo, então eu escolhi você. Também teve aquela vez que eu deixei meu melhor amigo sozinho e machucado, e escolhi ir embora com você, ou naquela noite sentada em frente aquele bar fechado, em meio as lagrimas e o medo de estar magoando você e outra pessoa, eu tive que escolher alguém, e eu escolhi você mesmo sem responder nada para nenhum dos dois. Eu escolhi você quando eu fugi de casa ou quando eu fui fazer meu exame de direção, eu escolhi você um milhão de vez durante todos esses anos, mesmo você não reconhecendo, por estar preocupado demais com o seu ego. E foi essa sua preocupação banal, em ser melhor em tudo, que fez com que eu parasse de fazer escolhas. Só que dessa vez não sei quando, onde e o que me fez parar. Não sei se foi em alguma das inúmeras brigas, se foi em alguma das palavras gritadas sem perceber, ou no meio dos tapas que já trocamos. Não sei se foi pela dor, ou pelas lagrimas, pela saudade ou a falta de vontade de ficar por perto. Só sei que eu parei de escolher você, parei de escolher nós.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Um pé depois do outro.

Deixei de escrever, de falar, de me abrir. Deixei de sorrir e de querer viver, ninguém me brigou a parar, ninguém me machucou além de mim mesma, algumas marcas são evidentes, os pulsos cerrados, o estomago e o psicológicos detonados. Pois é, eu surtei, perdi o controle, depois de meses me torturando com lembranças, me magoando com palavras, gestos,  me estressando com uma dor de cabeça fora da normalidade. Foi assim que eu foi parar em uma clinica de saúde mental, é insano, triste e estranho, eu sei, e tudo isso me assusta, os remédios fortes, os olhos atentos de todos ao meu redor, a culpa. Tudo parece ter ficado mais difícil agora, aprender a disfarçar as expressões do meu rosto e as mãos tremulas para não preocupar ninguém, segurar a dor, a vontade intensa de chorar, criar coragem para levantar da cama e ir trabalhar. Ter que voltar toda semana para aquele lugar e falar da minha vida para pessoas estranhas e são por causa dessas pessoas que eu estou escrevendo, eles acham que isso pode me fazer bem, é estou seguindo orientações, e esse foi o primeiro passo de quem assim como uma criança tem que aprender a andar, mesmo que o trauma das quedas as impeçam de levantar e tentar novamente.

sábado, 30 de março de 2013

De todas as decisões, as que eu me obrigo a tomar, são as unicas irreversiveis.

Primeiro eu tive que aprender a gostar de você. Pois eu sabia que ninguem mais me amaria como você amou e ama, eu precisei lidar com o fato de gostar de alguém novamente, e isso era totalmente contra os meu principios, mas eu eu precisava, eu tinha que me dar essa chance de talvez ser feliz, do que ficar sem saber como seria, até que aconteceu. Depois eu tive que desaprender a gostar, porque por alguns motivos as pessoas e você mesmo me forçou a isso, não aproveitou a tal chance de felicidade que não era mais só minha, era nossa. Então esse sentimento chegou a um ponto que estava me fazendo mal, me sufocava, me partia ao meio, então tive que te deixar, vi você seguindo em frente e fiz o mesmo, abandonei você e o meu coração. Não passará muito tempo e você voltou, e há alguns meses eu não sei mais em qual das duas situações eu me encontro.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Me impeço de ser eu mesma

Converso pouco para não deixar alguma palavra errada escapar, e eles percebam o muro que venho construindo em minha mente para impedir que minhas confusões e meus medos pulem para fora todo o tempo, pois eles não iriam acreditar que eu consigo controlar meus sentimentos. Eles querem me curar, com os seus remédios e todas as suas orações, dizem que preciso de um médico, ou que é falta de uma força superior, até me levaram para um lugar distante, um lugar bonito, mas deu. Eles dizem que eu preciso aceitar melhor as coisas, que preciso suportar tudo quieta e deixar de ficar brava, dizem que choro demais, que eu torno tudo mais difícil, que não sei esperar, me precipito e não sei lidar com nada, achando que assim eu vou enfrentar a dureza das coisas, mas eu não enfrento. Depois dizem que eu tenho que ocupar minha cabeça, mas a super lotação sempre me fez mal, meus pensamentos são claustrofóbicos. Logo em seguida se arrependem porque sabem que eu não tenho jeito, e vêem dizendo outras coisas que eu nem ouço, adquiri um jeito de me ensurdecer de vez em quando, eles nunca sabem o que dizer mesmo, até aprendi a gargalhar espontaneamente, quando não sei o que dizer eu ativo essa gargalhada, assim vão pensar que eu estou feliz e não vou precisar mais daqueles remédios que fazem dormir. Agora eu finjo, e minto, para não me mostrar como estou, só para não me taxarem mais como a problemática que ninguém sabe lidar. As vezes ainda me esbaldo em lagrimas e quebro as coisas, mas pelo menos deixei de me machucar, isso faz parte do processo de fingir, sem marcas pelo corpo, vai parecer que está tudo bem.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Esse passado é vivo dentro de mim

Eles acabaram comigo, pegaram minha alma e esfregaram no asfalto até despedaçar. Sem intenção ou por maldade, eles conseguiram, todos eles. Agora olha o nada que restou, olha só para mim, antigamente tão cercada de pessoas e hoje me escondendo de todas elas, talvez por medo que elas vejam o mal que me causaram, e se sintam felizes.
Me escondo dentro do meu vazio, e acho que até gosto do silêncio que ficou, não há mentiras aqui, não há nada, só o eco constante das lembranças, de algumas palavras já ditas, um eco que há noites que se repetem por horas e horas, sempre as mesmas palavras, sempre as mesmas vozes. Depois passa, volta o silencio. Ah como eu amo o silencio que fica depois que eu lembro de todas as coisas exatamente como aconteceram, revivendo momentos dentro da minha cabeça.  Nunca neguei meu masoquismo, esse meu vicio de me machucar, de não querer esquecer, é melhor assim, sempre fui apaixonada por dor, me faz acreditar que eu ainda sou capaz de sentir alguma coisa.
Olhem para mim novamente, estou falando com se já estivesse com 80 anos, sem expectativa de vida alguma, mas é bem assim mesmo que me sinto, com 80 anos, mesmo não tendo nem um terço dessa idade. É como se nesses ultimos anos, nesses poucos anos eu tivesse vivido décadas e décadas dentro de apenas 365 dias. Parei no tempo, me agarrei nas lembranças do passado e me recuso a sair daqui, eu me recuso a abrir a ultima gaveta do meu guarda roupa e jogar no lixo todas as cartas, fotos, flores, e tantos outros objetos. É aqui que eu quero ficar, nesse meu mudinho de coisas velhas, de ecos durante a madrugada, essa é a unica maneira que eu sei viver.